As flores e frutos primitivos vêm da bacia do Araripe, uma das mais abundantes jazidas de fósseis do Brasil, que se divide entre os Estados do Ceará, de Pernambuco e do Piauí.
A bacia contém restos de inúmeras espécies animais e vegetais do Cretáceo (de 142 milhões a 65,5 milhões de anos atrás), o último período geológico antes da extinção dos dinossauros.
"É quase certo que todos os espécimes que nós temos aqui pertençam a novas espécies, e mesmo a novos gêneros", disse à Folha a paleobotânica Mary Elizabeth Bernardes-de-Oliveira, 57, do IGC (Instituto de Geociências) da USP. "Como estamos estudando um intervalo de tempo grande, de cerca de 10 milhões de anos, é muito raro que dois exemplares da mesma espécie ocorram juntos", afirma a pesquisadora.
Com base em fósseis que pertencem à coleção do IGC, Bernardes-de-Oliveira e seus colegas estão ajudando a entender o momento em que as plantas com flores e frutos ainda estavam engatinhando na evolução. "Na idade que estudamos o Aptiano, uma subdivisão do Cretáceo", só 20% dos vegetais parecem ter flores."
Estudar os fósseis do Araripe, em especial os da chamada formação Santana, é um dos caminhos ideais para entender a origem das angiospermas. Tudo indica que o grupo surgiu na zona do planeta conhecida como equatorial árida -que inclui exatamente o atual Nordeste brasileiro e a moderna costa oeste da África, que estavam se afastando lentamente no Cretáceo.
Oásis floridos
Os fósseis analisados até agora indicam que, embora fosse realmente árida, a região nordestina não era tão inóspita assim. Grandes lagos permitiam o aparecimento de oásis, e era ali que as primeiras flores costumavam surgir e, com elas, os primeiros frutos. Tudo isso sugere que essas pioneiras tinham fortes ligações com espécies semi-aquáticas modernas, como as vitórias-régias.
Nessa fase da evolução do grupo, as sementes eram recobertas por uma camada simples de folhas modificadas, formando uma estrutura que lembra uma vagem moderna. A presença de uma membrana fina ligada a algumas sementes sugere que elas fossem "aladas", capazes de pegar carona no vento para se dispersarem.
Os achados do Araripe também apóiam a teoria de que, nas flores primitivas, os órgãos sexuais masculinos e femininos das plantas com flores apareciam combinados -elas teriam, portanto, os dois sexos no mesmo indivíduo.
Por outro lado, a relação íntima entre flores e insetos, que garantem a reprodução da maioria das angiospermas graças à polinização, pode ter começado cedo. "A bacia do Araripe tem uma quantidade imensa de insetos fósseis. A presença das plantas com flores talvez ajude a explicar isso", afirma Bernardes-de-Oliveira.
O grupo deve ir até o Araripe e obter mais fósseis para um estudo completo. E já conta com um reforço de peso: David Dilcher, da Universidade da Flórida, que achou a mais antiga angiosperma, com 140 milhões de anos.
Link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u8432.shtml
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